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Manifesto

Astrolábio Ateliê e Galeria Viva

Direção geral e curatorial: Luiz Palma

Coordenação de arte e comunicação:

José Vitor Marchi Palma

Amigos e conhecedores do meu trabalho com artes visuais, penso que se lembram dos diferentes lugares do meu ateliê na cidade de São Paulo. Por volta de 1984, em uma das muitas noites de concentração resolvi chamá-lo Astrolábio, pois ali era o meu ponto de observação e reflexão acerca dos acontecimentos dos mundos externo e sensível. Lugar de navegação pelas idéias e sentimentos cujo registro poderia revelar uma cartografia visual própria e única. Gosto de lembrar-me dos espaços e suas ruas e das tantas pessoas que por ali estiveram e, obviamente imaginando as que ainda virão. Rua Capote Valente, Bartira, Simão Álvares, Capitão Antonio Rosa, Livi. Sucessivamente: Pinheiros, Perdizes, Vila Madalena, Jardim Paulistano e Vila Beatriz. Atualmente na rua Maria Leonte da Silva Nóbrega na Vila Ida, Alto de Pinheiros.  Alguns desses ateliês existiram em sobrados compartilhados com outra guilda. Sempre gostei de criar e pintar assimilando de alguma forma as observações sobre a existência e o vazio dados por gente que por ali estava: pintores, psicoanalistas, economistas, sociólogos, arquitetos, fotógrafos, ocupados e desocupados com a vida. Incorporei muitos signos nas telas e nas colagens como apreensões locais e do mundo e assim, continuo a fazê-lo. Em 1986 na Rua Capote Valente, fiz a primeira exposição no Astrolábio. Chamou-se “Dois Artistas”, o outro, Márcio Silva, um jovem pintor brasileiro residente em Paris que durante uma temporada por SP morou alguns meses no Astrolábio. Desde então repeti a fórmula: criar e expor no mesmo espaço trabalhos meus  e de outros artistas. Brunoro, Lygia Zatz, Lilita Figueiredo, Luiz Cavalli, Gian Di Sarno, Patrícia Noronha, Gabriela Brioschi, Ana Rita Bueno, Inácio Zatz, Sidney Biondani, Dácio Bicudo, Black Linhares, Pablo Palma, Marcos Muzi, Zé Vitor Marchi, Celinha Pawel, Leila Monsegur, Maria Bedoian, Maja Lascano e Analia Zalazar  (Argentina), Dudu Tresca, Grupo de Arte Belenzinho, José Rubens Moldero, Rodrigo Noronha, Julia Pascali e…

Na arte considero-me alguém que maneja multidisciplinarmente os instrumentos da pintura e da criação visual, fato que para os puristas, conservadores ou ingênuos, trata-se de desvio - ah isso me dá mais tensão para criar! De forma experimental fui alcançando minhas próprias técnicas e abordagens, somadas às apreensões de registros da história da arte, aquisições em oficinas de criação e experiências de cozinha de outros ateliês por onde andei. E ainda hoje, com gosto pela história dos “ismos” da arte, continuo a viajar na nave do desespero expressionista  e isso não tem nada de desesperador, creiam.

Fizemos a passagem do milênio e bem, aqui estamos em direção aos anos 20 do século XXI e com mais agregação à proposta dos anos 80: tornar o Astrolábio Ateliê um espaço para as artes da vida. Isso tem a ver com um aumento de circulação de artistas, criadores, pensadores e público e se realiza com os saraus em que  cara a cara, humanos colocam seus esforços em sinergia para realizar desejos mútuos, seja por boa bebida e alegria, poesia e dança, conversa e sonho, sensualidade e a criação de uma arte comunal para puro êxtase. A galeria tem a ver com a oferta de um pequeno acervo em área física adequada e permanentemente aberta à visitação. As exposições tem a ver com artistas visuais daqui e dali, pois o mundo está mais aproximado. E, especialmente, isso tem a ver comigo, com você e com todas as pessoas que não entregam os cuidados do espírito ao mercado. E a contra-estratégia do Astrolábio à substância “mercado” emerge de forma espontânea, na quase inconsciente redescoberta  do “bando” – potente formação arcaica e no entanto, hiper-moderna.

Bem vindos os amantes da arte, artistas visuais, poetas, músicos, atores, performances, e aluados que tenham algo a trocar sobre a história humana. Prolixas ou encabuladas, não importa, que venham as pessoas ao Astrolábio e que em prosa, canto ou imagem, aqui deixem sua arte ou daqui leve-as, por vontade ou conseqüente desvario.

Luiz Palma, setembro de 2011