Em junho de 2014 fiz a exposição “A Máquina do Mundo” depois de um longo tempo compondo imagens com o poema de Drummond na mente e as tintas nas mãos. Terminada a exposição em agosto do mesmo ano, dos quinze trabalhos expostos, onze permaneceram em repouso no meu ateliê. Mas os versos da Máquina do Mundo são convocatórios, e posso imaginar o eterno retorno ao ato daquele ser exangue que ao final do poema afasta-se da Máquina repelida “desdenhando colher a coisa oferta”. Durante um tempo, ainda esquivo, olhava para cada uma das telas como alguém que “só de o ter pensado se carpia”, desconcertado com esse ser restrito que deixava-se assombrar pelo “som de meus sapatos”. Drummond, Drummond: como fugir ao mínimo objeto ou recusar-se ao grande? Impossível. Voltei a tatear por frestas, volumes e linhas as áreas fragmentadas pelo minério claro/escuro do universo drummondiano que eu, sob acaso objetivo, levara para as obras.
Um dia ou uma noite, não importa mais o tempo, meu eu lírico foi magicamente reconectado ao poema “olha, repara, ausculta: essa riqueza sobrante”. Não desdenhei o chamado e sequer resisti “pela mente exausta de mentar” e logo, voltar às tintas foi um oceano de nada. À minha volta, ouvia dizer – já está pronto! Quem sabe depois de amanhã, eu insistia engolfado “na estranha ordem geométrica de tudo“. MUNDO MAIOR – não por acaso ocorreu-me assim chamar esse retorno. Uma vez mais no Astrolábio Ateliê, no claro enigma daquela manhã de 4 de abril de 2018, a máquina novamente se entreabria. Hoje, na ESTAÇÃO CULTURA “abriu-se majestosa e circunspecta” para recompor-se miudamente ao final da tarde de 9 de dezembro.