Astrolábio Ateliê e Galeria Viva
Amigos e conhecedores do meu trabalho com artes visuais, penso que se lembram dos diferentes lugares do meu ateliê na cidade de São Paulo. Por volta de 1984, em uma das muitas noites de concentração resolvi chamá-lo Astrolábio, pois ali era o meu ponto de observação e reflexão acerca dos acontecimentos dos mundos externo e sensível. Lugar de navegação pelas idéias e sentimentos cujo registro poderia revelar uma cartografia visual própria e única. Gosto de lembrar-me dos espaços e suas ruas e das tantas pessoas que por ali estiveram e, obviamente imaginando as que ainda virão. Rua Capote Valente, Bartira, Simão Álvares, Capitão Antonio Rosa, Livi. Alguns destes ateliês existiram em sobrados compartilhados com outra guilda. Sempre gostei de criar e pintar assimilando de alguma forma as observações sobre a existência e o vazio, dada por gente que por ali estava: pintores, psicoanalistas, economistas, sociólogos, arquitetos, fotógrafos, ocupados e desocupados com a vida, a mulher, os filhos, as amigas de amigos, e amigos de amigas. Incorporei muitos signos nas telas e nas colagens a partir dessas apreensões coletivas do mundo e assim, continuo a fazê-lo. Em 1986 fiz a primeira exposição no Astrolábio Ateliê. Chamou-se “Dois Artistas”, o outro, Márcio Silva, um jovem pintor brasileiro em Paris que durante uma temporada por SP morou alguns meses no Astrolábio. A partir daí repeti a fórmula: criar e expor no mesmo espaço. Trabalhos meus e de outros artistas visuais. Brunoro, Lygia Zatz, Lilita Figueiredo, Luiz Cavalli, Gian Di Sarno, Patrícia Noronha, Gabriela Brioschi, Ana Rita Bueno, Inácio Zatz, Sidney Biondani, Dácio Bicudo, Black Linhares, Pablo Palma, Marcos Muzi, Zé Vitor Marchi, Celinha Pawel.
Na arte considero-me alguém que maneja multidisciplinarmente os instrumentos da pintura e da criação visual, fato que para os puristas, conservadores ou ingênuos, trata-se de desvio – ah isso me dá mais tensão para criar! De forma experimental fui alcançando minhas próprias técnicas e abordagens, somadas às apreensões de registros da história da arte, às aquisições em oficinas de criação e às experiências de cozinha de outros ateliês por onde andei. E ainda hoje, com todo respeito à história dos “ismos” da arte, continuo a viajar na nave do desespero expressionista e isso não tem nada de desesperador, creiam.
Fizemos a passagem do milênio e bem, aqui estamos em direção aos anos 20 do século XXI e com mais agregação à proposta dos anos 80: tornar o Astrolábio Ateliê uma Galeria Viva. Isso tem a ver com um aumento de circulação de artistas, criadores, pensadores e publico – cujo programa se realiza com os saraus. Isso tem a ver com oferta de um acervo de excelência em área física adequada e permanentemente aberta a visitação – a galeria. Isso tem a ver com artistas visuais daqui e dali, pois o mundo está mais aproximado – as exposições. Isso tem a ver com uma página interativa e amigável na web – o site Astrolábio criado e desenhado por Simone Chacham. E, especialmente, isso tem a ver comigo, com você e com todos aqueles que não entregam os cuidados do espírito ao mercado.
Bem vindos são os amantes da arte, os artistas visuais, os poetas, os músicos – axé Adão Monteiro-Wesley, e todos os aluados que tenham algo a trocar sobre a história humana. Prolixas ou encabuladas não importa, que venham ao Astrolábio Ateliê e Galeria Viva as pessoas, e que em prosa ou imagem, aqui deixem sua arte ou daqui leve-as, por vontade ou conseqüente desvario.
Luiz Palma – São Paulo, Brasil, setembro de 2011